Ruas de Sao Paulo

E em Sao Paulo houve aqueles momentos depois das chuvas. Voce era pego de surpresa por um pe d'agua ou entao saia na rua depois de um deles. Entao precisava tomar cuidado com as calcadas cheias de pocas d'agua, os pes sempre chagavam enxarcados no trabalho ou onde quer que seja. E voce precisava andar longe da rua, bem longe porque os motoristas, que estavam quentinhos e secos dentro de seus carros, nao relacionariam a agua na rua e voce na calcada (estou sendo otimista), e cada carro era um possivel banho. Voce chegaria manchado de gotas de barro no trabalho. E quantas pessoas foram assim pegas desprevenidas e quantas vezes elas xingaram muito e eu, para ser sincero, me divertia. Nao que nao tenha acontecido comigo, mas eu tentava nao sair do serio.
E sendo chuva fraca ou forte, melhor era ir a pe para casa, e chegar jah de banho tomado, porque de carro ia demorar. As ruas de Sao Paulo paravam com as chuvas. Mas eu olhava de minha janela e gostava muito, sempre, sempre que chovia eu via o mundo mais bonito e as ruas de Sao Paulo mais caoticas.
E o lixo depois das chuvas, eu olhava ainda pela janela para ver o lixo ser levado pela agua para bueiros entupidos e rios imundos. Lixo flutuante. E o lixo arrastado para o meio da rua tornava-se ainda mais lixo quando atropelado vezes e mais vezes por carros despreocupados. Mas o lixo atropelado nao morria, apenas ficava menor, se espalhava, tomava conta de tudo. Mas ainda assim eu adorava a chuva nas ruas de Sao Paulo, elas que causava as inundacoes e tanta gente desabrigada, perdendo moveis, suas casas com agua ateh o telhado, agua do rio imundo. A culpa nao era da chuva, por mais que as pessoas assim pensassem, nem minha, portanto eu gostava dela e talvez ela de mim, e eu colocava meu tenis e ia correr na chuva quente, gostosa, envolvente, ia correr fora das ruas de Sao Paulo. Porque as ruas de Sao Paulo, elas nao combinam com as chuvas de Sao Paulo e eu preferia chuva sem rua...