quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Boxing Day Run

Hoje eu participei da corrida que eu devo rotular como a mais bonita que eu participei até agora. Foram 10 milhas que misturaram paisagens urbanas com parques, na cidade de Hamilton, neste dia que os canadenses vão as compras para aproveitar as liquidações de final de ano. Então o dia é chamado de Boxing Day.

Hamilton é uma cidade que fica na ponta do lago Ontario, no bico do lago que se vê no mapa, o ponto mais a Oeste. Não é muito perto de Toronto, levei quase duas horas de trem para chegar lá. De carro deve dar para fazer em uma hora, indo direto. Hamilton é o berço do filme Saint Ralph, que fala sobre a corrida Around The Bay, dita a mais antiga da América do Norte, que acontece lá em Hamilton, e também sobre a Maratona de Boston. Mas é tudo ficção, gostei do filme, mas não achei que tem algum valor cultural em relação à história dessas corridas. Indo de carro de Toronto para as cataratas do Niágara, você também tem que passar por Hamilton.

Eu saí de casa as 7 da manhã, com 5 graus negativos, e a previsão era que a temperatura ia subir. Eu estava relativamente tranquilo porque já tinha corrido com temperaturas mais baixas, mas ainda assim levei roupa de frio de sobra. Daqui de casa peguei o trem até perto de Hamilton, lá tive que fazer baldeação e mudar para um busão. O trem geralmente vai até Hamilton, mas em feriados como hoje ele para antes e o jeito é continuar de ônibus.

Cheguei em Hamilton as 9h05, a largada seria somente as 11h. Fui direto pegar o kit, o local era muito próximo de onde o ônibus me deixou, uns 200m apenas. A entrega dos kits foi feita num salão grande. Eu notei que essas corridas no inverno provavelmente tem número limitado de participantes por causa da capacidade desse salão. NO Brasil a concentração era sempre ao ar livre, aqui, no inverno, não dá pois é bastante frio. Todo mundo fica num lugar quente até faltar uns 10 minutos para a largada.

Quando fiz a isncrição, eu não pensei muito, pedi camiseta tamanho XS. Para mim que XS no Brasil são as maiores. E dessa vez a camisa era legal, era de manga comprida com tecido de corrida. Bom, eu pensei que era legal, depois que peguei não achei assim aquelas coisas. Mas o que aconteceu foi que quando cheguei lá a moça disse para outra "Camisa Extra Pequena" (Extra Small). Era isso que significava XS. Putz... Eu falei pra mina que eu pedi sem saber, que não ia servir para mim, será que não dava para trocar e tal... Ela disse que as camisas são contadas e que eu tinha pedido uma Extra Pequena. Eu disse Ok, já pensando em dar para a Lika. Quando a outra moça trouxe a camiseta, era muito pequena, ela olhou para a camiseta, olhou para mim, eu falei para ela que era do Brasil e lá XS é tamanho grande, por isso eu tinha marcado errado... Ela conversou com o chefe, que liberou uma tamanho grande (L - Large). Legal, agradeci ela bastante.

Na verdade o salão era uma quadra de volei, basquete, e eu fui sentar na arquibancada pois ainda faltava um bom tempo para a largada as 11h. Quando faltava uma hora eu decidi que seria legal ir no banheiro. Mas antes de ir no banheiro, eu pederia guardar a mochila, afinal eu já tava pronto pra correr. Não vi nenhum guarda volumes, então fui perguntar para tiazinha onde ele era. Na verdade eu desconfiei que não tinha e perguntei onde poderia deixar minha mochila. Ela disse que se eu trouxe um cadeado, poderia colocar num ármário lá e trancar. Se eu não trouxe, poderia deixar ali na arquibancada mesmo. Entendi então poque eles pediam para levar cadeado. Bom, eu não tinha, teria que deixar por alí. A arquibancada tava lotada de gente, eu resolvi ir no banheiro, voltaria ali e deixaria a mochila em algum canto.

Fila grande no banheiro, eu fiquei na fila um tempo até conseguir entrar. Devia ter mais banheiro, mas aquele ali era um comum, tinha que entrar um de cada vez. Não tinha dos químicos. Fiz o que tinha que fazer, voltei lá, deixei a mochila na arquibancada ao lado de outras que tinha lá e fui correr.

Isso tem sido uma constante nas provas, você deixa a mochila em qualquer lugar, não tem guarda volumes na maioria. Mas não é o mundo perfeito onde as pessoas deixam e ficam tranquilas, eu percebo que há uma certa preocupação da organização em oferecer segurança para quem vai deixar as coisas por alí, eles dizem que vão ficar olhando. Mas eu nunca ouvi ninguem reclamando de ter tido seus pertences roubados. Eu coloquei 20 dolares no bolso e mais a chave do ap, assim se a minha mochila sumisse eu conseguiria me virar, iria perder o passaporte, mais problemático, que não levo para lugar nenhum, mas não sei porque ainda penso que eles podem pedir identificação. Eles nunca pedem nada, só chegar e falar o nome.

Foi para a largada atrasadíssimo, fui um dos últimos a sair do salão. Quando me posicionei para a largada faltava 3 minutos para ela. E impressionante, apesar de ser uma das corridas grandes por aqui, com cerca de 1000 participantes, já em sua 87 edição, e com todo mundo na área de concentração, a primeira fila ali tava vazia. Tava menos congestionado ali perto da faixa de largada do que para trás. Eu cheguei a pensar que eu deveria estar no final da área de concentração, a largada seria lá para o outro lado. Mas não, era ali mesmo! Foi muito impressionante, fui um dos últimos a chegar e se eu quisesse largaria tranquilamente na primeira fila.

Quando o organizador chamou a galera para a largada, que ele ia começar a contagem regressiva, então a galera ficou eufórica e só aí todo mundo andou para frente o que deu. Em mais 20 segundos foi dada a largada.

Eu fiquei na minha, não sabia como meu corpo ia me comportar, tinha rodado um pouco na esteira, mas nenhum treino bom mesmo no mês de Dezembro todo. Pelo menos não parei de tudo. Não esperava grande resultado, mas saí meio forte, passei a primeira milha para 7:13 (4:27/km). Mas eu sentia o ritmo, não tava fácil. eu realmente tava sem preparo. Outra coisa era que o percurso não era muito plano, tinha subidas e descidas, não tanto, mas não era o melhor percurso para fazer um bom tempo.

Com duas milhas de prova já estavamos fora da cidade, num parque, e a paisagem era deslumbrante. Tudo tirando a estradinha de asfalto onde corríamos era neve. Tudo branco, demais, muito bonito. Eu me lembrei do tempo que procurava no Brasil fotos de corridas aqui com temperaturas baixas. E quando via gente correndo junto com neve ficava com um monte de dúvidas se eu conseguiria ou não. Agora eu não só estava conseguindo, tinha muito mais neve ali do que nas fotos que eu via. A temperatura estava em 2 graus negativos, agradável para correr com agasalho, não é muito frio. Eu ia com a blusa do centro histórico, aquela preta, por cima dela uma que comprei aqui, que segura bem o frio. Estava com duas luvas também, eu tenho sido muito prevenido quanto aos dedos pois eles congelam fácil! São os primeiros a congelar! Mas estava com calor. Tinha até gente correndo com shorts, mas não vi ninguem sem blusa ou sem luva.

E o cenário continuou por muito tempo espetacular, se eu tivesse levado a câmera, teria parado para tirar fotos. Passei a milha 4 com 29:40 (4:37/km). O rítmo tinha caido, era inevitável, eu não estava tão bem. Por volta da milha 5 tinha um tapete onde passei na casa dos 37 minutos. Naquele momento imaginei que se mantivesse o ritmo terminaria em 1h14s, então ficou meio claro que nem isso eu ia conseguir.

Logo veio uma subida, que essa sim não dá para ignorar. Ela foi longa, começou leve e depois ficou forte. Eu já estava cansado e sofri nela. Mas não andei, não parei, segui. Pouco depois do final dela entramos numa trilha que para mim era meio descida, mas não tive certeza. O problema é que essa trilha foi longa e não estava limpa. Tínhamos que pisar na neve, que não tava mole, tava sim muito irregular. Como a neve caiu já há algum tempo, e parte já derreteu, a neve que sobrou em muitos lugares não é mais macia como quando ela caiu. Quando chegamos naquela trilha coberta de neve, uma garota do meu lado me perguntou se eu tinha corrido as 10 milhas em Whitby. Eu disse que tinha e que aquela havia sido minha primeira corrida com neve, essa era a segunda. Ela disse que era meio perigoso, para tomar cuidado. Essa garota eu vinha correndo com ela desde o começo, a gente meio que alternava as posições de tempo em tempo. Nos postos de água ela caminhava e eu passava, mas lá na frente ela me passava denovo mas não abria muito. Agora ela havia me alcançado depois de ter parado num posto de água. E eu imagino que sei quem era ela em Whitby. Lá também segui por muito tempo uma garota que devia ser ela. Lá, numa cena engraçada, onde ela ficou com medo de fazer a curva, porque o chão tava liso e ela rápida, ela meio que passou direto, eu encarei a curva e abrir aí uma boa distância, ela nunca mais me alcançou até porque eu segurei o ritmo forte. Mas isso foi antes da metade da prova lá. Aqui ela me alcança, a milha 8 deve estar por ali em algum lugar, a gente troca umas palavras mas ela, mais cuidadosa do que eu na neve, acaba ficando para trás. E a exemplo do que aconteceu em Whitby, ela não mais me alcança na prova. Eu acelero bastante, especialmente depois de sair da trilha de neve, até encontrar uma outra subida e ver que ainda falta uma milha. Não é pouco, não dá para segurar o ritmo forte por mais uma milha. Eu alivio um pouco, havia passado vários atletas que voltam a me passar. Mas eu sigo na cola e quando chegamos em uma outra descida eu acelero novamente para segurar até o final. Passo toda a galera que está na minha frente, abro uma distância, mas não vejo o final. Reconheço o lugar, curvas, mas nada da faixa. As pernas já ficam fracas, um sujeito que estava na minha frente segura o ritmo forte, eu não consigo mais do que acompanhar ele. Outra curva e então lá na frente eu vejo a faixa, bem na frente, espero ficar uns 150 metros para arrancar e passar de vez o sujeito da minha frente, que também tinha dado um sprint no final. Denovo cheguei exausto, com um tempo fraco, 1h17m05s, 4m47/km, um pouco melhor do que a maratona...

Dou umas voltas por aí, tentando esfriar, uma garota que havia me acompanhado também está muito cansada, tira a blusa e fica de top a 2 graus negativos. O esforço final foi grande e realmente o calor vem mais forte que o frio. Mas por um momento muito curto, logo a blusa molhada embaixo se faz sentir, eu decido entrar para o ginásio, lá está quente, é aquecido. Antes de chegar lá encontro a galera da sopa, pego um copão de sopa muito quente, vou para a arquibancada, sento perto de minha mochila e tomo devagar minha sopa. Não devagar o suficiente para não queimar a língua. Demoro com a sopa que está quente e em um copo de isopor. Depois pego a mochila e vou para a fila, recebo um kit e muito mais coisas para comer, banana, laranja, maçã, pão, barra de cereias. Pego tudo, guardo e enconsto num canto, coloco uma camisa seca, uma blusa seca, agora é enfrentar a volta...

Um comentário:

Issao disse...

Parabéns cara, vc correu muito bem para quem diz que não está treinando nada.... no ano passado eu corri as 10 milhas Garoto em 1h12 - portanto acho melhor vc encarar o frio e treinar mais se não quiser levar chapéu....
Abs,
Issao

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