quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Aventura

Ontem eu cheguei na estação Warden do metrô mais cedo do que de costume, pois o chefe saiu mais cedo e nessa de tempestade de neve a gente foi meio que no vácuo. Na estação estava parado um busão que passa direto pela Santa Clair, ele tem um ponto a uns 800 metros de casa. O meu busão não estava na estação e tinha mais gente esperando ele do que cabia dentro. Resolvi não esperar o meu, e dar um jeito de caminhar esses 800m.

Foi realmente uma aventura. Eu sabia que estava nevando com vento, uma neve gelada, fina, e eu estava apenas com uma blusa que eu trouxe do Brasil. Tirando o vento devia estar uns 2 ou 3 negativos. Eu sabia também que não haveria calçada para caminhar, mesmo no meio da rua tinha neve acumulada. E eu estava sem gorro, se luva, a blusa também não tinha gorro. De qualquer forma não deve acontecer nada demais em 800m, qualquer coisa, eu volto para o ponto de ônibus, fico lá dentro até o busão voltar. Fui, era mais uma experiência afinal, o outro busão somente me deixaria na porta de casa e eu pouco de novo conheceria.

Desci no meu ponto e segui a garota que desceu na minha frente. Ela atravessou a rua, eu no vácuo. Muito frio, vento, o cruzamento Midland com Santa Clair estava totalmente irreconhecível, todo branco, você mal reconhecia onde era a rua. Carros andando devagar, muita neve caindo com vento. A garota chega do outro lado da rua e entra num estabelecimento comercial. Eu fico, tenho que pegar à esquerda, atravessar outra rua, ir para casa, no prédio que ainda vejo somente lá longe. O semáforo abre para mim e eu passo. O carro me vendo para lá longe, os morotistas são cuidadosos, o chão tá liso, não chegam perto dos pedestres, pelo menos não deveria.

Estou do outro lado da rua, procurando a calçada. Na minha frente um monte de neve que se estende como que para sempre, separando a rua da calçada. Eu preciso passar por ele, a neve ali afunda mais, quase até o joelho, mas logo estou do outro lado, nada de calçada, porém. Tudo está branco, tudo está tomando por 15 ou 20 cm de neve que afunda quando pisada. Fico indeciso, não dá para saber direito onde estamos pisando apesar que ali não tem buraco, não tem nada do que temer. Penso se devo voltar, andar na rua, bem na beiradinha. Não, ela está lisa, melhor não, vou tentar andar por aqui mesmo. E sigo por onde outrora eu passava correndo. E houve corridas ali no verão onde eu chegava já com calor. Houve também aquelas embaixo de chuva, com chão molhado e aquelas com pouca neve. Agora não há nada, impossível correr, mas não estou ali para isso, estou de calça social, tenis Rbk que comprei no Brasil para as corridas de montanhas e nestes dias tem me servido para andar na neve, mas não é o mais apropriado.

Sigo caminhando rumo ao ap que está quentinho, eu já sinto o frio, a roupa inapropriada, mas ainda estou mais do que sofrendo, admirando tudo. Ando por onde acho que é a calçada, seguindo uma meia trilha por onde parece que outros enfrentaram a neve antes dessa tempestade chegar, porque hoje de manha já tava tudo coberto de neve, tinha nevado muito a noite. E agora a tarde mais neve, que castiga cada vez mais meu rosto, a orrelha que está do lado do vento começa dormir, eu enfio a mão no bolso e não tiro de lá, não trouxe luvas e não quero que as mãos congelem.

É inevitável pensar no relato que li sobre a ultra em Yukon e sobre a ultra na neve em Minessota, a arrowhead. Os corredores devem enfrentar isso, talvez exatamente isso, trilhas onde poucas pessoas passam, onde você não sabe direito onde deve pisar, vento, neve que afunda, frio, muito frio. Frio que já começa ficar dolorido, eu tento me arrepender de não ter pego o busão certo, já devia estar em casa, mas ainda olho para cima, contra a luz, ainda admiro a neve que cai e a neve no chão, não resisto, tiro a mão do bolso, pego um pouco de neve do chão, limpa, macia, geladíssima e que começa a derreter imediatamente na minha mão quente. Ruim, ruim porque neve derretida é água gelada qu eesfria a mão quente, eu já tinha aprendido a não pegar a neve sem as luvas, mas não resisti. Sigo e logo estou embaixo do viaduto, em cima passa o trem, eli parece que está quentinho simplesmente porque estou protegido do vento. Paro por um breve momento, ali está gostoso, 3 graus negativos. Mas eu preciso ir, estou ficando com frio, e quanto antes eu chegar em casa melhor.

Saio da proteção do viaduto e sigo andando pelo que acho que seja a calçada, afundando o pé na neve. Apesar disso ele não fica molhado, a neve está bem fria, seca, ela não derrete, não molha meus pés que está com um simples tenis de corrida. E eu sigo, mãos no bolso, chego em frente ao predio, e vejo um clarão que me assuta. É um relâmpago, segue ele um trovão, e chega a ser engraçado, é como se estivesse chovendo muito, é como se fosse uma tempestade de chuva e vento do Brasil, mas não é chuva que cai, é neve. Neve fina e gelada, eu estou num lugar sem proteção e o vento está muito frio. Viro a esquina do prédio, preciso andar uns 100m ao norte, entrar no pátio do precio e andar mais uns 60 metros até a porta que dá na escada que dá no quarto andar onde fica meu ap. Indo para norte o vento sopra contra. sopra geladíssimo, eu já não consigo curtir muito a neve onde piso, mas ainda lembro que eli, ontem mesmo eu havia andado numa calçada limpa, lembro do rastro do tratorzinho que a limpou.

Chego no portão do prédio e o vento parece que se multiplica por 10. Parece que o prédio de alguma forma canalisa o vento, que sopra forte a neve em meu rosto desprotegido tornando as vezes difícil até andar. Mas eu ainda assim acelero, está insuportável, rosto congelando, não sinto mais as orelhas, mas as mãos no bolso estão quentes, o tempo ao ar livre foi pouco para elas esfriarem. Chego na porta e entro, ufa, quentinho! Mas ainda o rosto está gelado, passo a mão pela testa para descobrir uma camada de gelo. parece que a neve em contato com a pele quente derreteu, mas o vento gelado congelou ela denovo e eu tava sendo envolvido por uma camada de gelo. Mas não mais agora, estou a 20, 25 graus, extremamente agradável. Passo a mão pelo cabelo e tiro muita neve que ficou acumulada, tivesse uma câmera seria interessante tirar uma foto, ver como eu estava.

E mais uma experiência com a neve, mais uma tempestade de neve e eu continuo gostando, ainda não espero alucinadamente pelo verão como parece ser o caso dos canadenses... Na empresa me perguntam o que estou achando, ainda falo "Awesome!!!", eles dão risada, alguns concordam que é bonito, mas não dá para eles dizer Awesome para isso... E ontem uma colega de trabalho me enviou uma mensagem instantânea, ela senta perto da janela e me disse que estava caindo uns "pretty very big snow flakes", caso eu tivesse algum tempo para ver. Tinha, fui ver, fui no meio da equipe dela, equipe com a qual trabalho as vezes e com a qual tenho bom relacionamento, no meio deles olhar pela janela, e eles parecem que olhando mais a mim do que a neve. São bons momentos, bons momentos de inverno canadense...

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Marcos,
Estou sempre por aqui conferindo suas andanças na terra do Rush (a banda).
Parece-me que existe tênis apropriado para correr na neve (impermeável etc)... Dá uma pesquisada por aí!
Um abraço,
Harry

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