domingo, 14 de março de 2010

Sobre divorcios e não divorcios

Há um tempo atrás eu li o livro Blink de Malcolm Gladwell, e aconselhei todo mundo aqui a não lê-lo. Mas eu sou um dos últimos a ler as coisas, então talvez você já tivesse jogado seu tempo fora naquele momento... Mas enfim, quem leu certamente ficou impressionado com um dos casos contado no livro do sujeito que filmava um casal recém casado por 15 minutos (olhava seu comportamento, conversa e tal, coisas do dia a dia, interação entre o casal) e previa com 83% de precisão se eles iam ficar juntos ou separados, usando ummodelo matemático. Através do blog to Andrew Gelman, um estatistico interessante que você tem o feed aí do lado, eu cheguei a esse texto, que depõe contra a tal previsão tão precisa.

O problema da previsão me pareceu simples, mas eu não vou me aprofundar nos detalhes do modelo, só que acho que dá para ter uma idéia aqui, mesmo não estatísticos. Supõe pr exemplo que 80% dos casais estão juntos após 5 anos (eu inventei esse número, mas é por aí, talvez o IBGE tenha esse número), então se você coloca 100 novos casais na minha frente e me pede para fazer uma previsão para cada um, se eles vão estar juntos ou separados daqui a cinco anos, e eu não tenho nenhuma outra informação a não ser essa de que em média 80% ficam juntos após cinco anos, o que vou fazer é dizer que todos eles vão estar juntos daqui a cinco anos. O resultado é que eu vou acertar aproximadamente 80% dos casos. Previsão bastante boa, não, e sem modelo! Ok, dado isso o quão bom é 83%? Bem ruim, não. Pior se pensarmos que ele tinha somente 57 casais e umas 200 variáveis preditoras e não tinha amostra adicional de novos casais para testar o modelo. Ok, não vou me estender mais qui, vcs podem ler o link se quiseram mais discussões.

O ponto interessante é que se alguém escreve um livro e diz que uma pessoa assiste casais por 15 minutos e sabe o que vai ser do relacionamento deles daqui a cinco anos, isso parece bem interessante. E se você não tiver algum treinamento em estatística e conhecimento das sem vergonhices que se tem nos artigos científicos por aí, você vai acreditar nisso sem questionar. Temos esse negócio de liberdade de expressão e tal, mas eu acho que livros como Blink beiram a criminalidade. O livro se torna um sucesso simplesmente porque a mairia das pessoas apenas lêem, não questionam, e olha, o livro é hiper interessante se você não questioná-lo, apenas ficar falando Wow! para cada novo experimento citado. O livro também não deixa claro (mas faz o leitor acreditar) que esse negócio de "thin slicing", de poder da intuição que ele tanto fala é simplesmente o achometro do autor, nada científico, e na verdade é fácil argumentar que a maioria dos experiemntos citados não tem nada a ver com isso (pra mim nem o autor acredita nisso, mas ele fez sucesso comum livro, o seu nome foi lá em cima, ele precisava escrever outro livro, qualquer coisa, para aproveitar o momentum). Pra mim o livro só tem um capítulo interessante sobre esse poder da intuição - o último, o Afterwords, que acho que nem é um capítulo, mas é interessante porque se você está interessado em experimentos que testam o poder da intuição, lá você vai encontrar referências sobre onde encontrar informações sobre isso (pois no livro você não encontra nada). Só que ainda assim o livro parece atrativo como um todo pois tem números incríveis, como estes 83% aí...

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