domingo, 7 de setembro de 2008

Até Port Perry






Port Perry é uma cidade pequena que fica fica na margem sul do lago Scugog. Apesar do lago ser bastante grande, ele é pequeno perto dos outros lagos que tem por aqui, como o lago Ontario, e talvez por isso bem menos conhecido. Eu tinha decidido pegar a minha bike e ir até Port Perry, numa aventura um pouco diferente do que andar pela Waterfront trail, uma vez que dessa vez eu encararia sobretudo estradas.

Tudo começou na sexta com um planejamento melhor da rota a seguir. Eu precisava definir relativamente bem antes por onde iria chegar lá e amarrar bem os pontos tal que o plano funcionasse. Ficar perdido dessa vez poderia não ser uma coisa boa em certos pontos onde eu estaria longe de qualquer cidade e fora do meu mapa.

Para tentar amenizar um pouco o problema do mapa eu imprimi cinco páginas de mapa do Google Maps e fiz minhas anotações nela, incluindo nome de ruas e flechinhas indicando a minha trajetória. Mudei ela um pouco depois para passar em Stouffville, uma cidade pequena mais ou menos no meio do caminho. A idéia de passar lá era mais para conhecer uma vila pequena do que por qualquer outra coisa.

Na sexta a noite deixei tudo meio preparado, comprei um pão e gatorade e daquelas cordas elásticas para prender a mochila no bagageiro da bike. Sim, agora eu tinha bagageiro e estava um pouco entusiasmado com a idéia de não ter que carregar a mochila nas costas, como se com isso eu conseguiria andar 50Km a mais com o mesmo esforço. Olhei a previsão do tempo, sábado amanheceria nublado e o sol sairia depois, o que seria perfeito.

Acordei as 4h30 da manhã de sábado, ontem. Chuva fina lá fora que por vezes engrossava um pouquinho, mas de dentro de casa nem parecia chuva. Liguei no canal do tempo denovo, manhã cedo chuvosa mas pararia logo, o tempo até poderia abrir a tarde. Resolvi ir, ainda que eu pegasse um pouco de chuva de manhã eu pedalaria por muito tempo e me secaria fácil.

Desci, preparei a bike, farol na frente e atras. Notei que se eu colocasse aquela bolsinha de biciclega atrás do banco como ela deve ir, ficaria na frente no farolzinho de trás. Eu pegaria pelo menos 1 hora de escuro ainda, noite, era prudente ter ambas as luzes visíveis. Resolvi não encaixar a bolsa como deveria e somente coloqui ela meio apertada entre a mochila e o banco da bike. E fui.

Logo que saí na rua vi que a chova não era tão fraca, eu me molharia. Ok, resolvi continuar, mais tarde a chuva pararia e eu me secaria fácil. Subi a Yonge até a Finch e virei a direita. A chuva apertou e pedalando na Finch rumo a Leste eu soube o que era ficar totalmente ensopado em cima de uma bike. Pensei em desistir, poderia ir para o Sul, pegar o metrô, voltar para casa. Mas não, resolvi tentar mais um pouco. A chuva parou, mas eu tava muito molhado, os tenis enxarcados, uns 15 graus e eu só não sentia frio porque pedalava sempre e o percurso de vez enquando tinha uma subida fazendo eu me esforçar mais.

Já não chovia mais, eu tinha pedalado por volta de 1 Km e parei sobre uma ponte para tomar um pouco de gatorade. Quando olhei atrás a bolsinha não estava, havia caido e eu não tinha idéia onde. Pensei em voltar. Mas poderia ter caído longe dalí, poderia ter caído perto de casa já que eu nunca me preocupei em checar se ela tava lá. E alguém poderia ter pego, apesar que a chuva, pouca gente na rua na madrugada de sábado, eu poderia ter alguma esperança. Mas se eu voltasse a viagem seria fatalmente cancelada a não ser que eu tivesse a sorte de encontrar o negócio perto dalí. Pensei. Não tinha tanta coisa lá dentro. Tinah o meu canivete suiço daqueles cheio de funções. Tinha outro semelhante, mas com chaves mais específicas para a bike. Tinha uma câmera de ar e uns negocinhos que ajudavam a trocar a câmera de ar. Tinha também uma corda elástica pequena. Era isso, não era tanta coisa, melhor eu ir em frente agora que a chuva deu uma trégua, e o que realmente me preocupava mais é que agora eu não tinha câmera de ar e se o pneu furasse no caminho eu estaria em maus lençóis pois a rota era predominantemente rural, longe de tudo. Mas eu resolvi ir ainda assim, o pneu era novo, ele não ia furar, pra que ele ia querer furar?

Segui pela Finch até a Warden virei na Warden rumo ao Norte. A chuva voltou e voltou molhando bem tanto que eu pensei novamente em desistir. Se seguisse na Wardem para o Sul sairia numa estação do metrô. Foi um momento de desânimo porque estava um pouco frio, minha blusa totalmente molhada, eu totalmente molhado, minha mochila molhada, sabe lá em que condições estaria o meu mapa e agora o pior de tudo é que eu já não acreditava na previsão do tempo e me perguntava como seria se a chuva continuasse por muito tempo, ou quem sabe o dia todo. Continuei apesar de tudo, lembrando que eu já estava bem ao norte, já estava em Markhan, não mais em Toronto, o metrô e qualquer meio de transporte a não ser caronas ficavam cada vez mais longe. Isso era por volta do Km 20 ainda.

Segui sempre ao norte na Warden, saí da cidade e agora estava em zona rural onde se via casas e plantações, onde se via poucos carros. Era impressionante como aquela avenida movimentada havia se transformado numa estrada rural, mas ainda pavimentada. Por volta do Km 30 eu parei. E a chuva também parou. Eu precisava pegar meus óculos escuros e aproveitar para olhar no mapa até onde eu deveria ir para o Norte, pois eu não conseguia lembrar o nome da estrada onde deveria virar a direita. O mapa em forma de caderno estava na mochila, toda amarrada, era difícil pegar. O mapa que imprimi estava estratégicamente no meu bolso, era o único que pretendia usar até Port Perry, apesar que o outro cobria melhor onde eu estava e mais uns 10 Km para frente.

No meu bolso as folhas de papel estavam totalmente ensopada. A sorte era que naquele momento eu não precisava muita coisa, só queria ver onde teria que parar de ir para o Norte para ir para o leste. E além do mapa, eu tinha feito uma descrição do percurso até uns 40 Km para frente de onde eu estava, ou seja, quase que dava para ir até Port Perry só com a descrição. Minha esperança com aquilo era que eu não precisasse ficar olhando no mapa as letras minúsculas. Apenas desdobrei as 5 folhas de papel molhadas que mais parecia uma única folha grossa. Com isso eu pude ver a minha descrição e o primeiro mapa. Deveria virar a leste na estrada de nome Stouffville, mesmo nome na vila que eu passaria no meio, não sei como eu não lembrava disso...

Segui ao norte na Warden, agora também preocupado com o mapa. Ele estava estremamente molhado, e as páginas 2 e 3 seriam importante para mim, e se a página 2 estivesse toda borrada? Eu estaria no meio do nada, sem mapa. Alias eu já estava no meio de pouca coisa. Lugar bastante rural, poucos carros passavam por mim. Resolvi verificar o mapa denovo e ver se conseguia separar a página 2 da página 1, e em conseguindo, se era possível ver algo no mapa. Consegui separar, joguei a página 1 fora e pouca coisa conseguia ver na página 2. A sorte foi que eu tinha escrito a caneta o nome de muitas estradas por ali e tinha indicado por flechas qual o percurso que eu deveria seguir. Eu conseguia ver pouca coisa além do que eu tinha escrito a caneta, mas isso deveria ser suficiente. Segui então.

Cheguei na Stouffville Road com 36Km (considerando o percurso do mapmyrun, pois o odometro da bike marcava um pouco mais que isso e nao sei qual está certo). Era uma estrada movimentada onde muitos carros passavam em alta velocidade. Eu tinha evitado essas estradas no meu plano inicial, mas eu decidi pegar ela uma vez que eu queria passar em Stouffville. Eu não gosto de estradas movimentadas e pensei em voltar ao plano inicial, que não passava em Stouffvile, e que consistia em ir mais uma "quadra" ao norte na Warden. Mesmo a zona rural é dividida em quadras nessa parte, mas as quadras são bem grandes, de tipo 3 Km de lado. Mas resolvi continuar, vamos passar em Stouffville, quem sabe eu acho uma Starbucks, eu tava com vontade de um café quente no lugar do gatorade!

Cheguei em Stouffville ainda meio molhado, com umas 3 horas de pedal, mas ainda eram 8h30m da manhã. Não vi nenhuma cafeteria e de quebra a rua principal da cidade estava em obras e com espaço limitado para trânsito. Com isso era um pouco complicado dividir espaço com carros. Mas para não me perder eu deveria seguir na Stouffville Road, que se transformou em Main Street dentro da cidade, até o seu final, na York-Durham Line, uma estrada que vai de Norte a Sul.

Pronto, eu já estava fora da vila e indo para longe da civilização novamente. Embora não chovesse e eu estivesse quase seco, o tempo continuava bem fechado e um pouco frio anunciando que podia chover a qualquer momento e que eu poderia esquecer do sol. Dali em diante eu encontrei uma infinidade de sobe e desce na estrada fazendo com que eu logo me cansasse. As subidas iam se tornando lentas e sendo feitas em marchas cada vez mais lentas. Mas o cansaço não era suficiente para que eu desistisse, em todo momento eu mantinha o objetivo firme de chegar a Port Perry, e de lá ir para Oshawa para pegar o trem de volta a Toronto.

Por volta do Km 62 eu parei pela primeira vez para comer. Estava já me sentindo um pouco fraco e realmente com forme. Na verdade só não tinha parado antes porque sabia que estava um pouco complicado para desamarrar a mochila e que o sanduiche lá dentro, apertado, não deveria estar com uma aparência que despertasse o apetite. Mas o gatorade já não era suficiente, na verdade eu não tinha terminado nem minha primeira garrafinha de gatorade, que era de quase 1 litro. Parei na entrada da Old Hwy 47, que era perto da Hwy 47, para comer pela primeira vez, devia ser umas 10h da manhã. Foi bom comer e eu tambem descansei um pouco, mas ainda tinha chão pela frente e eu não queria parar muito.

Segui para Port Perry sem parar mais e num ritmo constante, mas sem forçar muito pois Port Perry não seria o fim da linha e eu não estava certo quando andaria pela cidade, ia depender do que achasse por lá. As paisaagens rurais se seguiam, com muito verde, as vezes plantações de um tipo de feijão, as vezes gramíneas para o gado no inverno (eu estou chutando), e as vezes o verde de matas nativas mesmo. As estradas que eu escolhi para passar eram sempre sem movimento algum, eu tinha feito questão de escolher as menores estradas que se via no mapa. Mas a paisagem não era deserta, via se muitas casas na beira das estradas, sede das propriedades eu suponho. Eram sempre casas grandes, com mais de um carro, com entrada pavimentada e jardins bem cuidados. Todos os sítios pareciam serem de gente com uma boa grana, tanto que muitas vezes eu pensei que aquilo nao devia ser sitio mesmo, devia ser tipo chácara onde os proprietários passam os fins de semana. Mas se via tratores, se via plantação e gado. De qualquer forma a paisagem rural era muito interessante e diferente do que eu já tinha visto aqui no Canadá e no final das contas foi o que de mais interessante eu vi nesta pequena viagem.

Cheguei em Port Perry cansado de pedalar, mas com novo ânimo para explorar a cidade. Já passei direto pela principal rua que atravessa a cidade e fui parar do outro lado, em direção ao Museu. Que estava fechado. Ok, voltei para a cidade e depois de uma olhada no mapa resolvi tentar explorar a margem do lago. Consegui pouca coisa, mas vi bastante do lago. Não achei trilhas como a Waterfront, longa e fácil de seguir. A única trilha que achei foi bem curta. Muito das margens parecia ser ocupada por casas particulares de pessoas que querem morar de frente para o lago. Eu realmente não estava com ânimo para ir longe, pois sabia que tinha pelo menos mais 30 Km até Oshawa. Voltar para Toronto pedalando era algo que nem passava pela minha cabeça, seria chão demias para meus músculos já pedindo descanso. Mas eu andava devagar e ainda ia bem.

Depois de desistir de explorar muito mais as margens do lago eu voltei, disposto a partir para Oshawa. No centro da cidade encontrei um drive thru do Tim Hortons e pensei no café quente com alguma coisa para comer, seria sensacional, eu não suportava mais o gatorade. Tinha levado água também mas ainda não tinha pegado ela pois estava no fundo da mochila. Eu resolvi entrar na fila de carros do drive thru para pegar um copo de café e de quebra comprei mais uns salgadinhos. Sentei mais para frente em uma pequena mureta e me deliciei com o café, era realmente muito melhor que o gatorade. Ali eu já estava na saída para Oshawa e dali segui rumo ao sul, só que antes eu saí da estrada principal.

Denovo eu tinha traçado um plano para ir para Oshawa por estradas secundárias de forma que eu não pegasse muito movimento e curtisse mais a paisagem rural e também não me preocupasse muito com carros. O caminho que tracei deu incrivelmente certo, foi muito bom e extremamente tranquilo, praticamente sem movimento de carros. E o melhor foi que depois de ums 8Km o caminho para Oshawa foi predominantemente descidas e planos, eu conseguir manter velocidade acima de 25Km/h praticamente o tempo todo e sem parar. E isso continuou mesmo quando entrei na cidade e o movimento de carros aumentou bastante. Cheguei na estação de trem por volta das 2h30m quando o trem ia saindo, portanto tive que pegar o trem de uma hora depois. No total foram 130 Km em umas 7 horas.

O ponto alto da viagem eu diria que foram as paisagens rurais e o ponto mais difícil foram as chuvas no começo e tantas subidas. Eu descobri que preciso arrumar uma coisa melhor do que a mochila para carregar no bagageiro da bicicleta, existem umas bolsas proprias para isso. E preciso me aparelhar com os equipamentos de emergencias caso algo aconteça com a bike. E ainda preciso treinar bastante (coisa que talvez eu nunca consiga) pois eu ainda tenho ficado bastante cansado. Mas compensou pelos muitos lugares novos que conheci, parece mentira que eu conheci mais um lago, o lago Scugog, que na verdade é um lago pequeno perto dos principais lagos. Compensou! Segue link para as fotos (tirei poucas dessa vez por conta do mau tempo e também do fato de que fiquei muito tempo nas estradas, não em trilhas ou lugares tão bonitos) e para o mapa da rota percorrida.

Rota percorrida.

Fotos.

Um comentário:

Unknown disse...

Bacana a sua história velho.
Achei por acaso na net. Tenho vontade de ir ao canadá um dia, especificamente nessa "cidadezinha" Port Perry.
É um lugar bom?
Vlw

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