sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Treino de Natal

O dia de Natal começou mais quente do que o normal, e eu, que não tinha corrido nos 3 dias anteriores por causa do frio principalmente, resolvi fazer um treino mais longo hoje. A temperatura estava em torno dos zero graus, o chão coberto por uma fina camada de neve que havia caido ontem a tarde e a noite, mas era tão fina que nem era neve realmente, parecia uma areia bem fina. Mas fazia a paisagem ficar branca, o branco do Natal que vemos nos filmes.

Era 6:30 da manhã quando saí, escuro ainda pois estamos nos dias mais curtos do ano e o sol nasce perto das 8h apenas. Estava então bem escuro, e as ruas estavam desertas a não ser por essa mulher que encontrei na saída do prédio, que quando ela andava vários sinos que deviam estar espalhados pela roupa dela, tocavam. Ela encostou para me dar passagem e quando eu passei ela disse "Merry Christmas!". Eu agradeci e continuei alegre pelo meu primeiro Feliz Natal do dia ter sido tão cedo e diferente. Continuei para o escuro e para a solidão das ruas onde pelos primeiros 8 Km não vi mais ninguem a não ser alguns poucos carros indo e voltando. A cidade estava deserta e eu senti um pouco de solidão como é natural sentir nessa época do ano quando se está longe da família e mais natural ainda quando se está correndo na madrugada escura, fria e silenciosa de uma cidade outrora tão movimentada.

Eu segui alternando corrida na rua e na calçada, olhando a neve no chão mas pensando no Brasil tão longe, tão diferente e quente. Relembrei momentos e pensei como a vida pode mudar indo para direções inexperadas. Me esqueci por muitos momentos das pernas cansadas e decidi fazer um treino mais longo para prolongar a sensação de liberdade, a sensação de Natal daquele momento que embora solitário era único. Terceiro Natal aqui e tantas conquistas, mas em tempo de Natal lembramos mais das conquistas em termos de relacionamentos.

Ontem eu fui almoçar com o Nathaniel. Na Etiópia, o país dele, o Natal não é agora e o Ano Novo também não. Ele comemora o Natal, mas o Natal dele mesmo é em outra época. Almoçamos na véspera de Natal e ele me entregou um presente, sob muitos protestos meu. Eu disse a ele que eu não ia dar nada para ele, portanto ele não deveria me dar nada. Ele me disse que não era "olho por olho, dente por dente", ele não queria nada. E correndo na madrugada eu imaginei como sou ingrato em nem mesmo mandar cartões de Natal para aqueles que gosto, eles certamente ficariam felizes. Chegando no trabalho eu abri o pacote que tinha um ipod (ou algo nessa linha) e um cartão onde ele escreveu em portugues "Ao meu melhor amigo". Ele tem muitos amigos e eu não sou necessariamente um bom amigo de ninguem. Mas é tempo de Natal e ele me pareceu sincero, desde que ele saiu do trabalho que ele nunca deixou a nossa amizade diminuir, o que tem sido bom para mim, lembrando que semana passada ele me ajudou a carregar os móveis. Ele vai se casar mês que vem, que ele seja feliz.

A minha corrida continua, sinto o cansaço quando paro de pensar, mas decido subir a Avenue Road até a Wilson e voltar pela Yonge, um longo treino de uns 15Km, longo para os meus padrões atuais de treino. Mas o Nathaniel não foi minha única conquisa, o chefe também me convidou para almoçar com ele e com a família dele. As pessoas reclamam dos chefes, mas eu nunca pude reclamar. Escrevendo da casa dele, para mim no escritório, ele começou o email referindo-se ao fato de que eu não tinha cobrado uma análises que fiz para uma unidade externa da empresa "Marcos, you are of absolutely no help...". Eu dei risada, ele jamais falaria isso como chefe... naquele momento, véspera de Natal, ele estava sendo uma pessoa próxima o bastante para fazer brincadeiras. No ano passado, quando fui almoçar com a família dele, me deliciei com a culinária da Guiana (de onde ele é). Mas hoje ele me conhece melhor, o suficiente para não ficar magoado, então eu disse a ele que ficaria em casa aperfeiçoando os meus dons culinários...

E se volto um pouco no tempo, 1 hora antes do email do chefe, a minha colega de outro departamento de estatística da empresa passou na minha mesa acompanhada da filha dela, com uma sacola na mão. Ela veio do Irã e fala persa além do inglês. Me entregou duas lembranças que trouxe do Irã, da última vez que foi lá, enquanto outro colega de trabalho assistia a cena esperando para me oferecer um donut, ao estilo do Dexter, no seriado de TV de mesmo nome, com aquela caixa cheia de donuts na mão.

Um pouco depois a minha amiga liga de Nova Yorque. Pois é, eu tinha uma amiga em Nova Yorque, que devia estar dormindo enquanto eu corria rumo ao Norte. NY não era tão longe, mas a cidade sempre tinha ficado longe na minha mente, nunca foi um lugar que admirei, nunca foi um lugar que pensei ir. Mas ela era especial e ela gostava de NY. Eu nunca entendi direito porque ela era especial, talvez porque ela é da Nova Zelândia e lá o Natal é quente, como é no meu Brasil. Ela era quase como uma irmã que eu nunca tive, que me fazia sentir confortável, e que agora eu me perguntava se voltaria a vê-la. Pisando na neve na manhã de Natal eu imaginava o quando ela devia me achar estranho e lembrei que se ela estivesse aqui não teria me deixado recusar o convite do chefe.

Eu me senti privilegiado pelas pessoas que estão ao meu redor, essas que conquistei aqui e outras que estão no Brasil, pelas várias manifestações de carinho que eu tinha recebido na véspera de Natal. E me senti um pouco egoista por não ser uma pessoa de falar sobre sentimentos ou dar presentes de Natal. As pessoas são sempre bastante importante e eles todos estavam ao meu lado na manhã Natal, fazendo com que eu não sentisse o frio e não lembrasse do cansaço da corrida. Preciosas conquistas que faziam a manhã tão bonita.

Sim, ontem o dia tinha sido legal, trabalhei até meio dia, almocei com o Nathaniel e voltei para casa de bicicleta. Agora eu corria, descendo a Wilson, rumo a Yonge, onde pegaria a direita voltando para casa. Na descida as pernas iam bem, sem reclamar mas indo para Leste o vento parecia mais frio, a madrugada parecia mais madrugada. A Yonge é a principal rua da cidade é lá eu comecei a ver algumas pessoas na rua, mas não corredores. O dia de Natal não começava somente para mim.

Enquanto subi a ladeira perto da Yonge & Wilson eu pensei em voltar para o Brasil, talvez na Páscoa seria interessante. Eu não tenho voltado para o Brasil em tempos de festa, eu não tenho visto muita gente a tempos por que sempre volto para o Brasil em tempos de nada.Quem sabe na Páscoa. Afinal a Páscoa é como Natal. Eu parei para amarrar o tênis, pensei se devia pegar o ônibus afinal estava meio cansado, mas decidi correr. Veio a Eglinton e logo eu estava em casa depois de correr uns 14Km, andei um pouco pela rua, queria comprar um café para tomar junto com um Panetone que eu tinha em casa. Mas tudo estava fechado. andei, andei e a roupa suada estava fazendo eu passar frio quando vi que a Second Cup estava aberta. Comprei um café pequeno, coloquei bastante leite e vim para casa. Tomei banho e liguei para o Brasil, é quase horário de almoço lá e eu desejei Feliz Natal para a galera toda. Sensação de final de ano, de dever cumprido, de poder descansar em paz até terça feira que vem quando então voltam as dores de cabeça do trabalho, dores que passam quando corro, que passarão no próximo Natal...

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