domingo, 28 de julho de 2013

Ferrugem e Osso

Esse é um filme bastante interessante, francês, que eu assisti há pouco tempo. É sobre deficientes físicos.

Uma coisa que me vem a cabeça frequentemente é que se os deficientes físicos andassem nas ruas igual os não deficientes, então veriamos muito mais deles, e conheceríamos mais também. Isso acontece porque a proporção em que eles existem é muito maior do que a que vemos nas ruas. Por exemplo, dis-se que a proporção de descendentes de japoneses na população Brasileira é cerca de 0,7%. A proporção de cegos parece ser um assunto polêmico (essa página diz que o IBGE sub estima enormemente a proporção de cegos em 0,075%, dado que a média mundial é 0,6%). Eu não fucei muito, mas achei esse relatório da OMS dizendo que a proporção de cegos nas américas é 0,35%, o que é ainda muito abaixo de todos os outros lugares, exceto Europa. Eu não sei, dados os número sda OMS, os do IBGE parecem muito baixos até porque não há muita razão para esperar que o Brasil tenha mais ou menos cegos do que outros lugares, e há razões de sobra para penstar que o IBGE sub estimaria tal população - eles não são fãceis de serem encontrados, de serem entrevistados e tal.

O meu ponto é que a gente vê japonês toda hora na rua, eu que o diga, mas muito raramente vê um cego. Claro que deve ter um viés aí de eu estar falando do Estado de SP onde tem mais do que esses 0,7% de japonês, mas mesmo assim. Acho que isso meio que mostra o problema de acessibilidade que os deficientes fisicos enfrentam, e consequentemente o estigma que acaba surgindo, ou pelo menos a imagem de eles serem diferentes, tratamos eles diferentemente e tal. Eu acho que não só a sociedade não trata bem os deficientes físicos, mas nós mesmos como individuos não temos idéia de como tratá-los e o fazemos de forma errada, pela ignorância que a falta de convivência com eles nos dá, ou sei lá, talvez preconceitos também.

O filme é sobre uma mulher que perdeu as pernas mais ou menos na altura dos joelhos. É interessante como para a gente que é normal (em termos de pernas), mesmo ver a imagem das pernas da mulher causa um certo mal estar, afinal é algo que fica sempre escondido de todo mundo. Mas o filme mostra, e eu acredito que o ponto do filme, uma situação onde uma pessoa sem perna é tratada com naturalidade, por um sujeito que não tá nem aí para as pernas dela. Para mim isso foi brilhante, talvez pela minha falta de contato com deficientes, mas é uma coisa que nos faz pensar e nos dá um pouco do conhecimento que não temos.

Por exemplo, outro dia, bem cedo, eu ia atravessando a rua no sinal vermelho, dado que não tinha carro nenhum. Quando eu tava chegando do outro lado um cego ia começando a atravessar a rua no sentido contrário, também no sinal vermelho. Meio que por instinto eu gritei pro sujeito "Calma aí cara, tá vermelho..." e fui correndo lá perto dele "Vamos esperar um pouco..." e na espera ele começou a falar que estava chuviscando e ele gostava de sentir as gotas d'água, que gostava desse tipo de dia... e eu perguntei como ele havia perdido a visão. Ele disse que não sabia se tinha perdido, uma resposta meio enigmática, mas que eu interpretei como que ele tivesse nascido daquele jeito. Voltando para casa eu pensei que provavelmente eu tinha feito a coisa errada, ele provavelmente não queria, não se sentia bem e não precisava de ajuda para atravessar a rua. Mas tudo bem, como eu ia saber, tipo foi meio por instinto de minha parte. Mas a questão é que a gente coloca um cego em uma posição inferior à nossa e assume de bate pronto que ele precisa de ajuda, que é um coitado infeliz. Em uma sociedade onde conviver com cegos fosse comum provavelmente pensaríamos diferente. Depois de assistir o filme eu volter a pensar sobre o cego e agora me culpando por ter lhe perguntado sobre sua condição. Que importância tem como o sujeito ficou cego? Talvez tenhamos curiosidade para saber, mas é sem dúvida uma pergunta que foca muito na deficiência do sujeito, colocando ele como diferente de uma forma negativa.

Acho que temos um desafio de superar a falta de informação e o estigma (que inclui problemas mentais) e ver os deficientes como iguais, tratá-los como tal.

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