domingo, 8 de novembro de 2009

Blink - O poder de pensar sem pensar

Um dia, num almoço informal com um colega, o assunto descambou para a importância da intuição no auxílio aos métodos científicos. Logo percebi que os argumentos dele estavam baseados no livro Blink, que depois ele me emprestou. Blink significa "piscar de olhos", e nesse livro ele parece querer implicar que nossa intuição tem algum valor a mais do que a ciência.

Baseado no meu dia a dia eu diria que não a intuição, mas a experiência tem um papel importante na construção de modelos estatísticos. Isso é bastante claro, tipo, pouco valor tem um estatístico analisando pesquisa eleitoral se ele não entender de política. Ou não tiver alguem que entenda por perto. Eu ainda tenho problemas na definição do que seja a intuição.

Sobre o livro, no Amazon.com você vai encontrar inúmeros comentários negativos (além de muito mais positivos) . A minha opinião é igual a dos que dão nota 1 para o livro, muito deles com comentários fundados com argumentos mais científicos. Blink é um livro baseado no achômetro que se confunde entre diferentes tipos de experimentos que muitas vezes medem diferentes coisas, muitas vezes não relacionados nem mesmo ao tema do livro. O livro enrola o leitor com experimentos interessantes e tenta impor a opinião do autor como verdade, sem no entanto utilização do método científico.

O livro começa com uma estória interessante. Uma estátua grega, falsificada, é examinada por profissionais experientes, que dizem que não tem nada de errado com as características da estátua. Em suma, eles não encontraram evidências de que ela é falsa. No entanto experientes expert em arte olharam para a estatua e "sentiram" algo errado. Não sabiam no entanto o que era, mas a estátua era estranha e eles não confiaram na autenticidade dela. O autor usa essa estória para proclamar a superioridade da intuição (que ele chama de thin slice - fatia fina, querendo dizer que um pedacinho de informação é suficiente) sobre as tecnologias avançadas. Eu entendo que a falácia dessa informação não é evidente para todos, vou então tentar explicá-la.

- Você não pode dizer que a intuição é melhor que a tecnologia com base em um caso isolado. Vc precisaria de um experimento para isso. Poderíamos pegar 100 estátuas falsificadas e 100 verdadeiras e entregá-las na mão da tecnologia e da intuição e ver quem acerta mais. Eu tenho certeza que a intuição vai sair com o rabo entre as pernas, afinal não fosse assim não precisaríamos da tecnologia nesse meio.

- A escolha não aleatória de um caso isolado é totalmente sem valor. O mundo real pode ser, por exemplo, que 1000 estátuas falsificadas já foram analisadas pela tecnologia, para detectar se elas eram ou não falsas. Em 950 delas a tecnologia disse corretamente que a estatua era falsa. Dentre os outros 50 casos, 49 deles os experts em artes com sua "intuição" também pensaram que a estátua era verdadeira. E teve lá um único caso que a tecnologia não detectou a falsificação mas os experts em arte a detectaram. O sujeito pegou este caso extremamente atípico e relatou no livro. Em outras palavras, olhando para este caso, estamos olhando para um caso onde tecnologia falhou e intuição teve êxito. Mas nos é escondida a informação da imensa maioria dos casos onde a tecnologia tem êxito. E a grande quantidade de casos onde a intuição falhou.

- Finalmente, pode ser que a tecnologia nem tenha falhado, pois ela não tinha dito que a estátua era verdadeira. Pode ser que a tecnologia apenas não tenha encontrado evidências de falsificação, o que não quer dizer que a estátua é verdadeira.

O problema é que a falta de um experimento e a escolha viesada de um caso isolado pode ser convincente para muitos. Eles lêem a estória e pensam "Eu nunca tinha pensado nisso, a nossa intuição é realmente super poderosa!".

O meu outro comentário é que eu não vejo nada de anormal em pessoas experientes perceberem problemas onde a tecnologia não percebe. Mas é experiência, que você pode chamar de intuição se quiser, que faz isso e eu acho totalmente normal. Assim a estória nem mesmo tem nada de surpreendente. Agora, cuidado, se vc não tem experiência em algo jamais dê ouvidos a sua intuição pois a probabilidade de ela estar errada pode ser bem alta...

O livro tem uma série de experimentos interessantes. Este mesmo é interessante para pensarmos como a experiência é importante para ajudar a tecnologia. Outros experimentos mencionados no livro são relacionados, na minha opinião, a outras coisas. E para mim aí é onde o autor se perde misturando coisas para falar sobre o que ele chama de o poder da intuição. Vamos ver, eu vou tentar comentar em outros posts outros experimentos que estão neste livro. Não todos porque eu estou na metade e o livro é uma piada, eu acho que não vou conseguir ler mais... Enquanto isso, não o compre...

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