Saio do prédio para mais um treino matinal, a luz nos meus olhos pedem cuidado extra com as escadas. Apenas uma faixa da avenida está aberta para carros, que não passam no momento, manhã, muito cedo, frio. O que passa é um ônibus, substituindo o streetcar que teve seu trilho interrompido pelas obras, cujos trabalhadores usam luzes intensas para os olhos da gente. Olho para a esquerda, direita, e penso no incômodo que a obra causa para todos. O incômodo necessário para trazer conforto. A obra, dos trabalhadores que enfrentam o frio de 2 graus, é misteriosa. A obra não tem placas e poucas pessoas são vistas. Mas a obra tem máquinas e barulho e parece que tem gente dentro de buracos protegidos de nossa visão por cortinas, mas não protegidos do frio. A obra causa reclamações daqueles que passam, que viajam, que pedalam, que visitam, que moram, que vêem, que saem para andar com o cachorro, e até do próprio cachorro. A obra trás reclamações dos que estão dentro do buraco, depois de uma noite de trabalho frio, com as mãos e as orelhas doendo, com o nariz dopado pelo cheiro do esgoto, dos que sem querer se certificam de que quando a natureza chamar vamos poder atender sem prestar atenção, e olhar o celular ao mesmo tempo.
domingo, 27 de outubro de 2024
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