Momentos

 De bicicleta voltando do trabalho, o sol ainda alto dá a dica que muito do verão ainda pode ser aproveitado. Uma esquina, o carro que não sei se vai virar fica parado do outro lado e eu atravesso rápido, sem respeitar o sinal de pare, pensando que é melhor ele não reclamar que eu não respeito a lei, afinal se eu parar ele tem que esperar mais. Carros estacionados, uma pessoa com um cachorro, uma lata de lixo e um hidrante passam e enquanto eu penso em outras coisas outra bicicleta se aproxima, se aproxima e eu a alcanço. Uma moça em velocidade menor, mas carros vão e vem e eu não consigo passar. Nem quero, não estou com pressa, ela não está tão devagar, e eu tenho 45 minutos para devolver a bike. Ali à esquerda tem um parque com esquilos que não vejo e com uma estação de bicicleta que nunca deixo de ver. Esquerda, direita, ela na minha frente, um carro na frente dela, e o fim da rua. Ela carrega sacolas no guidão da bicicleta, vestida com roupa de trabalho, levanta a mão esquerda apontando para o alto, sinal que vai virar para a direita. Enquanto penso que vou me despedir dela ao virar à esquerda, o carro para respeitando o final da rua, ela tenta parar enquanto desvia do carro, enquanto dá sinal, enquando equilibra as sacolas, enquanto aproveita o sol de verão, e então ela descobre que o asfalto é àspero, abrasivo também no verão. Eu já estou do lado da minha bike procurando o pézinho dela que não existe em todas bike públicas. Deixo ela no chão, no meio da rua,  e logo estou segurando a bike dela, que não é pública mas interdita a via pública. Ela está bem e eu viro à esquerda, deixando ela para trás, na calçada, talvez considerando pegar o metrô amanhã...